quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

NOSTALGIA

 

"-Posso entrar?" - perguntava o menino à porta do escritório, no casarão da fazenda.
O vovô sorria girando levemente a cadeira e convidando-o a aproximar-se.
Com passos apressados se dirigia à escrivaninha que ficava bem no meio do grande salão rodeado de estantes e quadros. Coleções de livros e gravuras de lagos da Suíça enchiam o ambiente. Havia um cheiro diferente no ar.  De um salto, o menino alcançava o colo do vovô e, depois de beijá-lo, perguntava-lhe: "-O que o senhor está fazendo?"
Envolvido em seus afazeres, o velho não respondia. Ele não iria entender mesmo. Mas logo arrumava papel e lápis tinteiro para o garoto se ocupar.
Aquela cena que se repetia de quando em quando, ficou marcada em minha mente.
Eu amava aquele salão: livros e mais livros, quadros e mais quadros, um lindo lustre com um lampeão a querosene pairava sobre a escrivaninha, uma cadeira giratória, e gavetas repletas de lápis e penas para as canetas tinteiro. Tudo isso me encantava.
Mas o tempo passa e não tem piedade.
Logo aquela cena deixaria de se repetir por conta dos acontecimentos: a fazenda foi vendida.
Chorei muito, mas de que valem as lágrimas de um adolescente? Eles nada entendem...
Algumas coisas, porém, herdei de meu avô: O amor pelos livros, pelo gabinete, pelas gravuras, pelas araucárias. O amor pela cidade natal. O senso de justiça e equidade.
Enquanto eu viver, vou me lembrar de você e do seu amor pelos livros.
Descanse em paz, meu velho! Em breve nos encontraremos nos pavilhões celestiais.

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